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Aquecimento global e o questionamento sobre uma geração sustentável

Bruna Lapa e Filipe Monteiro

Nova Iorque é o palco principal. Invasões alienígenas, conspirações de estado, desastres naturais. Se o mundo chega ao fim, o fim começa na Big Apple, tendo, além da grande população americana, a Estátua da Liberdade como principal alvo.

divulgação: Google Imagens

Reprodução: Google Imagens

Muita calma! O mundo não acabou, pelo menos ainda não. Não há motivo para se desesperar. As questões ambientais que Hollywood faz questão de exagerar nas suas produções, já são discutidas no meio científico há algum tempo.

Clique aqui e saiba mais um pouco sobre o que fazer antes que o mundo acabe.

Os primeiros estudos sobre o que um dia passariam a ser pesquisas sobre o Aquecimento Global tiveram origem no final do século XIX, a partir do momento em que a tecnologia permitiu que o homem estudasse o clima mundial e pesquisasse os conceitos de sensibilidade climática.

O tema só passou a ser de grande relevância no meio acadêmico, no entanto, há aproximadamente quatro décadas, quando os satélites da Nasa passaram a medir a temperatura da Troposfera inferior através da monitoração da atmosfera terrestre.

Confira uma animação da Nasa que explica o Aquecimento Global: Nasa explica o aquecimento global.

A partir do momento em que o aquecimento global passa a ser um dos temas mais discutidos na mídia e no meio científico-acadêmico, surge uma preocupação: o que fazer para retardar este processo?

O aquecimento global é resultado da intensificação do efeito estufa, processo natural no qual a concentração de gás carbônico na atmosfera bloqueia a saída dos raios solares que nela entraram, resultando um superaquecimento terrestre. O ponto-chave sobre tal aumento baseia-se na concepção de que as ações humanas, tais como poluição, queimadas, desmatamento e elevado uso de automóveis, são fatores determinantes para que este problema climático se agrave, à medida que tais ações colaboram para o aumento na liberação do dióxido de carbono na atmosfera.

Fonte: U.S Environmental Protection Agency

Atualmente, as pesquisas sobre as mudanças climáticas não se restringem apenas ao meio acadêmico-científico. O debate acerca da hipótese do aquecimento da Terra permeia os âmbitos políticos, econômicos e sociais. Devido à relevância do tema, grandes potências passaram a realizar conferências mundiais a fim de buscar soluções para o problema, tais como,  determinar uma redução na emissão de gases-estufa e aplicar uma corrente que ganha mais adesão popular a cada dia: a sustentabilidade.

Uma nova perspectiva

Em oposição à visão amplamente divulgada sobre a intervenção humana nas mudanças climáticas, bem como no aquecimento global, surge uma nova hipótese científica. Um grupo de cientistas contesta e põe em dúvida a ótica sob a qual o aquecimento global é comumente abordado. Representando o “Lado B” da história, estas pesquisas afirmam que o aquecimento global é apenas um processo natural e que as ações antrópicas em nada participam na intensificação do mesmo.

Entre os pesquisadores que possuem uma visão alternativa ao que é comumente falado, destaca-se Ricardo Augusto Felício, professor de Climatologia na Universidade de São Paulo (USP). Sua linha de pesquisa trata da variabilidade climática e seus desdobramentos. A pesquisa de Ricardo visa a desmistificar as mudanças climáticas antropogênicas e sua ideologia embutida.

No artigo intitulado O culto à frugalidade e a produção artificial da escassez, publicado na revista ANAP Brasil, o professor critica o excesso de preocupação com questões climáticas em detrimento de outras problemáticas mais graves e urgentes. O artigo traz à tona o que está por de trás do discurso sustentável. Segundo Ricardo, interesses políticos e econômicos servem como base para a construção do discurso ecologicamente correto. A afirmativa de Ricardo é abordada em seu artigo na seguinte citação:

O objetivo da ideologia ambientalista consiste, pois, em descobrir uma maneira de superar uma crise de produtividade, contudo mantendo-se no quadro das relações sociais básicas que definem o capitalismo. É por esse motivo que não coloca os verdadeiros problemas de fundo e absolutiza a crise da produtividade, pretendendo encontrar sua origem nas relações desarmônicas entre o sistema econômico e a natureza. A ideologia ambientalista, desse modo, veio conceder nova vida ao mito do esgotamento da natureza.

Em entrevista cedida ao Programa do Jô, no dia 02 de março de 2012, o professor e pesquisador Ricardo Augusto Felício ratifica esta linha de pensamento: “É somente uma hipótese e não uma teoria, já que não há prova científica sobre o aquecimento global”. Dentre as suas afirmações, o professor defende que o efeito estufa é a maior falácia científica existente, que o nível do mar se mantém o mesmo e que a camada de ozônio é inexistente. Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Confira outra entrevista com Ricardo Augusto cedida à TVFakeClimate:

Mudanças sentidas de perto

Para Silvana Oliveira, trabalhadora autônoma natural de Viçosa, não há como o aquecimento global ser mentira. “Antes fazia muito mais frio, agora o verão parece até maior. Acho que a temperatura mudou”. A percepção de Silvana a respeito do clima pode ser explicada não só pelo viés do aquecimento global, mas também pelo estudo sobre outros fenômenos climáticos.

O aumento da temperatura pode ser medido em escala local. À medida que a população urbana cresce ao longo das décadas e ocupa cada vez mais espaço nas cidades, erguendo edifícios e superlotando o trânsito com automóveis, as interferências climáticas em um espaço reduzido se agravam. O que, na prática, não significa o mesmo que um aquecimento global, já que apenas atinge uma pequena parcela da população do planeta, ficando restrita a determinadas áreas urbanas.

Esse fenômeno é conhecido como ilhas de calor e se refere ao aumento da temperatura devido à retenção de calor nas cidades, o que é provocado, como já foi citado, por simples ações como asfaltamento de ruas, entre outras.

A professora de Climatologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Magda Luzimar de Abreu, busca esclarecer essa questão, situando sua pesquisa na capital mineira, Belo Horizonte. No artigo O Clima Urbano de Belo Horizonte: análise têmporo-espacial do campo térmico e hígrico, publicado na Revista de Ciências Humanas da Universidade Federal de Viçosa em 2010, Magda analisa as mudanças de temperatura em Belo Horizonte, também provocadas pelas ilhas de calor, conceito que, segundo Ricardo Felício, explica as mudanças climáticas em algumas cidades.

Um trecho do artigo de Magda mostra modificações ocorridas na capital mineira:

“O município de Belo Horizonte apresenta peculiaridades naturais e sociais que formam um universo de análise extremamente favorável ao estudo do clima urbano. Possui feições geográficas que contribuem não só para diferenciações topo e mesoclimáticas em espaços relativamente próximos, como para a exacerbação de problemas resultantes da degradação ambiental, tais como formação de ilhas de calor e concentração de poluentes. As implicações do rápido desenvolvimento econômico da cidade, sua expansão espacial e o crescimento demográfico vêm sendo sentidos pelas constantes degradações ambientais, tanto em nível municipal como metropolitano” (ABREU, 2010).

As hipóteses são muitas e as incertezas são fundamentais para a obtenção de algum resultado científico. Por um lado, defende-se que não há nada com o que se preocupar, já que o aquecimento global é um fenômeno climático natural, como tantos outros que a Terra já sofreu. Por outro, afirma-se que o homem é o grande responsável pela intensificação do problema e assim propõe a sustentabilidade como uma possível saída.

E você, o que pensa sobre o assunto?

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Biopirataria: fiscalização x contrabando

Ana Paula Abreu e Thiago Anselmo

A maior diversidade da fauna do planeta se encontra no Brasil. A riqueza natural do país, no entanto, é proporcional ao tráfico de animais silvestres que movimenta cerca de US$ 2,5 bilhões por ano. A prática ilegal gera inúmeras consequências, tanto para as espécies traficadas e o meio ambiente, quanto para a economia.

Os danos ecológicos consistem na aceleração do processo de extinção e  na introdução de espécies exóticas em locais que não são próprios de seus habitats. Existem também outros efeitos evidentes, como a venda sem nenhum controle sanitário, que pode torná-los transmissores de doenças. Há, ainda, o prejuízo financeiro, pois quantias incalculáveis são movimentadas sem que impostos sejam recolhidos.

Segundo Raulff Lima, biólogo e coordenador executivo da ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), norte, nordeste e centro-oeste são as principais regiões afetadas por essa prática, uma vez que possuem a maior concentração de diversidade do país. Os destinos são normalmente os grandes centros urbanos, onde os animais são comercializados ilegalmente. Lima afirma, ainda, que é notório o ciclo de maus tratos que os animais sofrem, o que causa as péssimas condições físicas e culmina em um alto índice de mortalidade. A cada 10 animais retirados de ambientes naturais, um chega ao consumidor final ou é resgatado pelos órgãos ambientais. A mortalidade é de 90%.

Além da comercialização interna, grande parte dos animais capturados são exportados para várias finalidades: colecionadores particulares e zoológicos, que  priorizam as espécies mais ameaçadas, logo, quanto mais raro, mais caro;  objetivos científicos, que utilizam os animais como base para pesquisa e produção de medicamentos; animais para pet shop, um dos fatores que mais incentiva o tráfico – quase todas as espécies da fauna brasileira estão incluídas nessa categoria -; produtos de fauna que são muito utilizados para fabricar adornos e artesanatos (normalmente são comercializados os couros, peles, penas, garras e presas).

Sem título

Tabela dos animais traficados e seus respectivos preços / Fonte: Renctas

O advogado, consultor jurídico e professor universitário Talden Farias, doutor em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande, afirma que a venda ou posse ilegal de animais silvestres é crime, segundo a Lei n. 9.605/98 de Crimes Ambientais. O Artigo 29 prevê que é ilegal “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: pena – detenção de seis meses a um ano, e multa”. No artigo 32 desta mesma Lei, fica decretado como crime “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: pena – detenção, de três meses a um ano, e multa”.

Farias salienta, ainda, que a tortura animal também é vedada pela própria Constituição Federal de 1988, que, no artigo 225, prevê que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. No primeiro parágrafo do artigo consta que, para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma de lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.

O advogado esclarece que qualquer órgão ambiental é competente para fiscalizar e tomar medidas emergenciais que se fizerem necessárias. Indivíduos podem denunciar casos de tráfico de animais ao Ministério Público e à Polícia, ou podem também entrar em contato com o IBAMA.

Raulff Lima é otimista quanto ao efeito das campanhas de conscientização no Brasil. Para o biólogo, que está diretamente ligado à elaboração de ações e estratégias contra o comércio ilegal de animais, a sociedade brasileira está mais sensível ao tema, e as mídias tem sido importantes nesse processo, auxiliando na divulgação dos projetos de conservação e educação ambiental.

A comercialização

Essa comercialização de animais é tão comum que, com uma rápida pesquisa pela internet, é fácil achar vários links que remetem a venda e encomenda de animais silvestres. Na Europa isso é mais comum. Você pode visualizar clicando aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

A fiscalização, por mais que aconteça, nunca consegue proteger tudo. Por isso é nosso dever avisar às autoridades quando necessário.

Faça sua parte!

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Desmistificando a Aids

Carolina Brito e Viviane Ferreira

Segundo o Boletim Epidemiológico divulgado em 2012 pelo Governo Federal, foram registrados 656.701 casos de aids no Brasil. Destes, a maioria concentra-se na população heterossexual. Mas ainda existe preconceito relacionando esta doença a prostitutas, gays e usuários de drogas. Este preconceito teve início nos anos 80, com o surgimento da AIDS. A mídia, durante este período, ampliava “o preconceito inerente à doença: “O saudável era visto como sinônimo de normal. A doença não estava nos homens, mas na sua opção sexual, na sua transgressão à ordem preestabelecida”, conforme retrata a professora Adriana Simões Machado em sua dissertação de mestrado*.

Evolução do tratamento

Foto: Cabeleireiros contra a Aids

Foto: Cabeleireiros contra a Aids

Os primeiros casos começaram a surgir no início dos anos 1980. Nesta primeira década, era uma doença de difícil tratamento, pois a sua identificação ocorria somente após o aparecimento dos sintomas. A partir dos anos 90, com o avanço dos estudos, os pesquisadores passaram a descobri-la através de exames, sem a necessidade de que manifestação de sintomas, conforme indica o site da Fundação Oswaldo Cruz. Os estudos, então, foram se desenvolvendo com base no tratamento que deveria ser feito e nas formas de prevenção. Antes, o doente era associado a uma imagem frágil e abatida. Entre 1995-1996, essa imagem foi mudada , principalmente, pela introdução de coquetéis de remédios, que possibilitaram maior qualidade de vida aos infectados.

Atualmente, o tratamento é feito com uma quantidade menor de remédios, que controlam a doença a ponto do infectado conseguir levar uma vida normal quando administra os medicamentos de forma correta. Outro grande avanço ocorreu na transmissão materno-fetal. Em entrevista a Drauzio Varella, o médico infectologista Ricardo Hayden explica: “O uso do AZT ou de outras drogas combinadas, segundo a necessidade individual da mãe, associado à indicação de cesarianas antecipadas para evitar a micro-transfusão de sangue da mãe para o filho, que ocorre durante o trabalho de parto, reduziu de 40% para 1% ou 2% a cifra de transmissão para o bebê.”

 

Remédio é novidade no tratamento da Aids

Cientistas descobriram que o medicamento Truvada, utilizado no tratamento da AIDS, também serve como forma de prevenção à doença. Conforme noticiado no Jornal Ciência, o remédio deve ser ministrado somente com indicação médica, e não substitui a camisinha.

Divulgação e prevenção

O Dia Mundial de Combate à Aids surgiu com a intenção de divulgar, estimular a prevenção e a tolerância, além de diminuir o preconceito e a discriminação associados à doença. Estas são as maiores barreiras no combate à epidemia. O Brasil já encontrou um modelo de tratamento para a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, que hoje é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma referência para o mundo. Ações são promovidas em vários estados e cidades.

O Governo de Minas  lançou em dezembro de 2012, a campanha “Aids. Coloque um ponto final na sua dúvida”. A mobilização pretende incentivar a prevenção contra a Aids com as ações que alertam sobre a importância do diagnóstico precoce.

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

 * Tese: A representação social da AIDS construída a partir das informações veiculadas nos jornais diários: análise da cobertura sobre AIDS no jornal Estado de Minas. período de 1984 a 1995.

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Doenças autoimunes, o organismo contra si

Eduardo Braga e Gustavo Aureliano

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Qual a relação entre perda da pigmentação da pele, inflamação das articulações e  problemas intestinais com a ingestão de pão? Estamos falando, respectivamente, das doenças vitiligo, artrite reumatóide e celíaca. Mas o que essas doenças têm em comum? Elas são chamadas de doenças autoimunes, aquelas que são resultados de respostas imunes contra as células e tecidos do próprio organismo, o sistema imunológico fica desorientado, atacando o próprio corpo e os órgãos que deveria proteger.

O sistema imunológico é o sistema de defesa do nosso organismo. É  um complexo sistema contra invasões de agentes externos, sejam estes bactérias, vírus, fungos, parasitas, proteínas ou qualquer outro ser ou substância que não seja natural do corpo.

A lista de doenças autoimunes é bem extensa, chegando a  um grupo de mais de 100 relacionadas entre si, que envolvem qualquer órgão ou sistema do nosso organismo. Inclui doenças que atingem, simultaneamente ou sequencialmente,  órgãos ou sistemas, e outras dirigidas especificamente contra alguns deles, seja  o sistema nervoso,  aparelhos digestivo e respiratório, pele, sangue, olhos, articulações e glândulas endócrinas, entre outros exemplos.

Não se sabe a causa do sistema imunológico ser incapaz de distinguir entre os tecidos saudáveis do corpo e os antígenos. Várias teorias têm sido propostas para descrever as formas como as doenças autoimunes se desenvolvem, já que há um grande número de doenças, com diversas formas de manifestação, sendo essa uma das maiores causas para a dificuldade de se encontrar uma cura para a autoimunidade.

Fontes:

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Células-tronco: a carta coringa do nosso organismo

Bárbara Monteiro e Roberta Nunes

E se o corpo humano pudesse ter uma peça curinga que se encaixassem  para suprir qualquer necessidade do organismo? As células-tronco são o alvo desta esperança. Como  elas dão origem a todas as outras células e  não têm função específica, podem  sob algumas condições  ser estimuladas a formar tecidos especializados, até mesmo órgãos que foram danificados por diferentes patologias.  Apesar de parecer uma solução milagrosa, é preciso cuidado pois os pesquisadores alertam que não há testes com células-tronco em humanos para todas as doenças, e os que existem devem ser de graça.

Para que servem?

Nos dias atuais as células-tronco têm diversas funções, a principal delas é a recuperação de um tecido lesado por dano ou trauma. Segundo  a biomédica  Ariany Oliveira Santos, do Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti  (Hemorio), o organismo tem naturalmente um sistema de reparo tecidual espontâneo, porém em algumas situações patológicas esse reparo não ocorre, e é nessa situação que as células-tronco são importantes, pois tem a capacidade de regenerar esse tecido danificado e restaurar sua atividade fisiológica. Por exemplo, no caso de doenças degenerativas, como a esclerose lateral amiotrófica, há degeneração e morte dos motoneurônios, levando a perda progressiva da função motora, nesse caso um tratamento com células-tronco poderia reverter a doença, se as células se diferenciassem em neurônios motores substituindo aqueles que se degeneraram.

De acordo com o Centro de Criogenia do Brasil, as células-tronco podem ser usadas para recuperar doenças derivadas do sangue, tais como: Leucemias e demais anemias.Outras doenças estão em fase de pesquisa, apresentando resultados surpreendentes, como:

A doenças já são tratáveis, entre as mais conhecidas  estão os linfomas, as leucemias, as de falência medular, as metabólicas e as imunológicas.  Entre 1988 e 2012, foram realizados, em todo o mundo, mais 20.000 mil transplantes com sangue do cordão umbilical, sendo realizados aproximadamente 80 transplantes no Brasil em 2011. As pesquisas continuam. Abaixo  um gráfico sobre 166 ensaios de possíveis doenças que podem ser tratadas com células-tronco do sangue do cordão umbilical.    

Reprodução: Corvida

Tipos de células-tronco

1. Células-tronco embrionárias: As embrionárias são  encontradas no 5º dia após a fecundação,  e possuem a capacidade de se tornarem qualquer tecido do corpo humano. Isto as torna uma fonte enorme de potencial terapêutico. Entretanto, as células-tronco embrionárias são, sob o aspecto ético, uma fonte de tecidos polêmica para transplantes em seres humanos, porque implicam na destruição de embriões. Embora apresentem esta importante capacidade, as pesquisas com estes tipos de células estão indisponíveis e estão em fase de pesquisa, segundo Liliana  Acero,  doutora em Ciências Sociais  na University of Sussex,  pós-doutora  pela  Universidade de Massachussetts-at-Amherst  e professora visitante da Universidade Federal Rio de Janeiro.

A coleta e armazenamento das células-tronco embrionárias muitas vezes é relacionada com os transplantes. Muitas pessoas no Brasil e no mundo precisam deste serviço, e as células-tronco seriam uma opção para armazenar suas próprias células e aumentar a chance de cura.

2. Células-tronco adultas são extraídas de diversos tecidos humanos, tais como, medula óssea, sangue, fígado, cordão umbilical, placenta. Geralmente são retiradas do próprio paciente e o risco de ocorrer rejeição é consideravelmente baixo. A desvantagem em relação ás embrionárias é que sua a capacidade de se diferenciar em células do corpo humano é menor, explica Guilherme Gatti,  biomético do Centro Universitário Central Paulista (Unicep) e bolsista pesquisador do Laboratório de Biologia Molecular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).  O Brasil é o primeiro país da América Latina a permitir o uso deste tipo de células, desde maio de 2008, quando o Supremo Tribunal Federal autorizou as pesquisas.  O país foi a quinta nação do mundo a produzir células-tronco pluripotentes induzidas, que podem se transformar em qualquer célula sem ser criada a partir de embriões. Por esse motivo, vários estudos caminham para o uso das chamadas células-tronco adultas.

Classificação das células-tronco

As células-tronco são classificadas de acordo com sua capacidade de regeneração, segundo o biomédico Guilherme Gatti, do Centro Universitário Central Paulista (UNICEP) e bolsista pesquisador do Laboratório de Biologia Molecular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),  “As unipotentes são células que se diferenciam em um único tecido. Já as pluripotentes são capazes de diferenciar-se em quase todos os tecidos humanos, excluindo a placenta e anexos embrionários. E por fim, as totipotentes, diferenciam-se em todos os 216 tecidos que nós humanos possuímos, incluindo a placenta e os anexos embrionários”, conclui.

Banco de células tronco

O primeiro  banco de sangue de cordão umbilical no Brasil, que é das células-tronco adultas, foi a Cryopraxis, criado em 2000, sediado no Rio de Janeiro.  Ao todo, no país,  foram armazenadas cerca de 45.7 mil unidades de sangue de cordão umbilical, de acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) até 2010.

Porque armazenar células do cordão umbilical ?
Em entrevista ao blog Científico Jornalismo, Aryane Oliveira Santos esclarece a importância e razões de armazenar células do cordão umbilical. A pesquisadora é graduada em biomedicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,  mestranda em biologia celular e molecular pela Fundação Oswaldo Cruz-RJ e atua no  Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio).

Um dos grande problemas encontrados em transplantes no geral, é a rejeição. Nosso organismo tem um sistema de defesa que reconhece tudo que lhe é estranho, então nos transplantes, seja de órgãos ou células, há o reconhecimento desse material transplantado como estranho, já que o doador e o receptor do transplante são pessoas diferentes, e consequentemente ao haver esse reconhecimento, as células de defesa destroem esses órgãos ou células transplantadas, o que torna o transplante ineficiente. O cordão umbilical é extremamente rico em células-tronco, uma vez congelado, estas células vão permanecer viáveis por muitos anos, sendo assim, quando o individuo em sua vida adulta precisar de suas células-tronco umbilicais que foram armazenadas no momento do seu nascimento, estas células poderão ser injetadas nesse individuo, sem que haja nenhum risco de rejeição, já que as células transplantadas são as células do próprio individuo, a esse processo denominamos transplante autólogo ( doador e receptor do transplante é o próprio indivíduo)

Público x Privado

No caso dos bancos públicos, as células-tronco do cordão umbilical são doadas para serem armazenadas em uma instituição pública. Isso implica na possibilidade de utilização destas células para qualquer pessoa que precisar de um tratamento. As células-tronco umbilicais coletadas em bancos de sangue privados servem exclusivamente para uso pessoal de doenças que possam acometer a pessoa. Nesse sentido, o discurso de tais instituições se baseia na segurança em oferecer uma nova alternativa preventiva a doenças que possam ser ser contraídas futuramente. Segundo o site da empresa Cordvida, referência em  armazenamento de células-tronco, familiares também podem ser beneficiados.

Liliana Acero,  doutora em Ciências Sociais, contraria algumas empresas privadas que fazem uma publicidade enganosa. Ela declara que ainda o banco privado não é muito eficaz.  Ela explica que no banco privado se paga  um valor por ano como garantia de um tratamento, caso necessário. Mas,  este sangue  tem restrições. “Se você tem uma doença transmissível, não pode usar. Só pode usar para  poucas doenças e enquanto se é jovem porque são recolhidos sangue para alguém com no máximo 50 kg. Além disso, a lei brasileira não permite  o uso para um familiar, restringindo apenas para a  pessoa”.

“Eu tenho um neto e meu filho queria fazer armazenamento de células-tronco, mas eu recomendei para não fazer. Mostrei para ele que além de ser caro  são  para poucas doenças que isto funciona”.   A pesquisadora também declara que caso necessário,  no banco público,  se pode apropriar de outras células-tronco, assim como a escolha de armazenar servir para outras pessoas.” complementa Liliana Acero.

Políticas Públicas

Em entrevista ao Blog Científico Jornalismo, a  pesquisadora Lilian Acero, coordenadora do projeto de pesquisa  Govcel “Desenvolvimento de Capacidades para a Governança: Visões Sociais e o Debate sobre Células Tronco no Brasil”   numerou algumas reflexões sobre as políticas públicas de células tronco no nosso país.

  1. Consulta pública: A falta de interação entre a sociedade pode prejudicar as pesquisas. Se a população for consultada sobre as questões das células-tronco os avanços poderiam ser mais rápidos e eficazes.

  2. Informação à  sociedade – Necessidade de divulgar as informações sobre células-tronco para a população, e não apenas disseminar conteúdo entre cientistas.   Fomentar a participação da sociedade, com  interatividade entre os  próprios pacientes pode ser uma alternativa. É  importante a representação  de grupos sociais, além da instância religiosa, como os indígenas, os grupos  feministas e outros níveis da sociedade.

  3. Plataforma tecnológica:  Uma plataforma para  proporcionar e criar  processos até que  as pesquisas se  tornem uma terapia e cheguem a clínica, a quem precisa. As células para a pesquisa não são as mesmas que a da terapia.

  4. Nível de investimento: Necessidade de que se mantenha os investimentos, mesmo que os  recursos sejam  altos  internamente no país. É preciso também repensar o investimento de  capital privado.

Originalmente o contexto cultural do Brasil influenciou bastante as pesquisas de células tronco. Em 2005, quando houve a aprovação da Lei da Biossegurança, foi complicado porque tinha muita imposição sobre o uso de células-tronco embrionárias. Os empasses  estavam liderado por grupos tanto de católicos quanto de evangélicos e ainda de cientistas. Daí para frente teve outro problema, a população não está muito informada das mudanças que estão havendo. A nível mundial as terapias celulares, algumas são bem antigas no Brasil também, estão muito avançadas,  mas não há muita informação sobre o que está sucedendo. É preciso mais informações para a população e não apenas de cientista para cientista.  A Anvisa tem tentado regulamentar a  relação da pesquisa se efetivar  para a clínica, saindo dos papeis e se tornando tratamento.   

No Brasil pessoas que tiveram problemas de repente, como acidentes, tem ido fazer tratamentos na China. É muito preocupante pois além do gasto altíssimo que a pessoa tem. Os tratamentos são vendidos como terapia,  mas  não passam de ensaios e ninguém sabe a procedência. Outro problema, é que se alguém provar que alguém  fez um tratamento fora do país, e o problema foi resolvido, entra a questão de que o Brasil deveria disponibilizar o tratamento e de graça.

Pesquisas

A biomédica  Ariany Oliveira Santos em entrevista ao Blog, também informa sobre as pesquisas no  Brasil. Segundo ela, o  Ministério da Ciência e da Tecnologia, o Ministério da Saúde e agências de financiamento têm investido substancialmente nas pesquisas com terapia celular, atendendo assim a um dos requisitos para que o país continue competitivo nessa área. Como resultado desse investimento, o Brasil nos dias atuais é considerado  um país que entra para a mesa dos países com pesquisas de alto nível como, Estudos Unidos, Alemanha, Inglaterra.

“Há diversas instituições, no Brasil, que estão investindo pesado nesse setor, como o Hemocentro de Ribeirão Preto, USP, UFRJ, UFPR, entre outras, que elevam a qualidade das pesquisas e produzem resultados promissores para as terapias com células-tronco. Um desses resultados promissores foi alcançado por pesquisadores da USP no ano passado, eles conseguiram, com o transplante de células-tronco, reduzir os sintomas da distrofia muscular de Duchenne, uma doença neurodegenerativa na qual os portadores vão perdendo a capacidade de andar com o passar dos anos. O transplante não gerou novos músculos sadios,  mas parece ter criado condições mais favoráveis para a preservação da funcionalidade da musculatura já existente” completa.

Valores 

A  empresa Cryoprax informou por telefone  que para fazer a coleta do sangue do cordão umbilical  o curto é R$ 3.660. Após este processo, anualmente a taxa é de R$ 621.

Histórico das células-tronco Dr. Tsutomu Higashi, médico patologista e pesquisador ortomolecular, explica a evolução histórica das células-tronco.

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Pesquisadores do Rio desenvolvem tratamento com células-tronco para tratar de fraturas

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Desenvolvimento Sustentável, uma nova forma de ver o mundo

Danielle Diehl e Lara Pechir

Nos últimos anos, a sociedade passou a cobrar dos setores públicos e privados uma mudança no desenvolvimento atual para um modelo de desenvolvimento sustentável (DS), a partir de uma postura empresarial ambientalmente correta. Com isso, houve um considerável aumento nas exigências legais e restrições de recursos financeiros para as empresas poluidoras, o que constitui o favorecimento à preservação ambiental.

O setor de mineração, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, tem importância crescente no desenvolvimento econômico e social brasileiro, em virtude de sua participação no fornecimento de insumos básicos para o processo de expansão industrial e urbana. Com isso, torna-se extremamente crucial no processo de preservação ambiental no país.

pet extrativa mineral outubro 2010 Fonte: IBGE

Existem as exigências legais do Sistema de Gestão Ambiental (SGA), entretanto, elas não são totalmente cumpridas por todas as mineradoras, pois isso envolve muito lucros, marketing, competição, etc. Pedro Carlos Schenini, pesquisador da área de Gestão Empresarial Sustentável, comenta que a imensa maioria das empresas fazem uma gestão ética e ambientalmente responsável.

“Isso não tem nada a ver com desenvolvimento sustentável. O que essas empresas fazem é cumprir a legislação, trabalhar em seus processos com menor impacto possível e tratar ou minimizar o efeito de suas atividades. Está dentro da ótica do DS, mas não é o desenvolvimento sustentável”, comenta. Desenvolvimento Sustentável vai além de apenas preservar o meio-ambiente, é uma responsabilidade social, cultural, ambiental, econômica e geoespacial.

A Vale, por exemplo, é uma das maiores mineradoras do mundo, líder na produção de minério de ferro e presente em 37 países, e foi eleita em 2012 a pior empresa do mundo, por não respeitar o meio ambiente e os direitos humanos. Os recursos minerais são bens esgotáveis, não renováveis. Por esse fato, tendem à escassez à medida que se desenvolve a sua exploração. Segundo o Serviço Geológico do Brasil – CPRM, os principais problemas ambientais oriundos da mineração podem ser englobados em cinco categorias: poluição da água, poluição do ar, poluição sonora, subsidência do terreno, incêndios causados pelo carvão e rejeitos radioativos.

Existem muitas ações e tecnologias que interferem favoravelmente em todas essas áreas citadas da sociedade, social, cultural, ambiental, etc. Oferecem alternativas desde como separar os resíduos até novas cepas ou variedades de fungos e bactérias que ajudam na decomposição dos resíduos. Além disso, ainda existem as medidas de prevenção; “são as melhores, resolvem antes que o problema aconteça. Até porque a melhor maneira de limpar é não sujar”, comenta Schenini. Isso tudo é chamado de “Tecnologias Limpas”.

“As empresas geralmente não se ocupam de todas as áreas para que o Desenvolvimento Sustentável se concretize. Quem cuida dessas outras áreas (ou deveria) é o governo. DS é um conceito. É uma nova forma de ver o mundo. As empresas cumprem a lei. Quanto às Normas de Qualidade ou Padronização de Comportamento, as empresas não são obrigadas a cumprir. As que o fazem é por interesse comercial e de marketing e talvez para se escapar dos rigores da lei”, conclui.

Da pedra ao pó Para extrair o ferro da rocha são usadas máquinas monstruosas e muita água

1. Lavra

A primeira etapa de mineração é a extração propriamente dita, que pode ser feita com escavadeiras, tratores que raspam a rocha ou explosivos, quando o minério se encontra longe da superfície. As maiores escavadeiras retiram da lavra 5 mil toneladas de material bruto por hora

2. Transporte

Para levar o minério até a usina, onde ele será preparado para a venda, existem os caminhões fora-de-estrada. O nome já diz tudo: com 6,6 metros de largura, eles não cabem numa estrada comum. Os maiores pesam 203 toneladas, atingem surpreendentes 64 km/h e carregam 365 toneladas, o equivalente a 36 caminhões convencionais

3. Estéril

Na lavra, o ferro esconde-se no meio de um monte de terra e de outros minérios sem valor. Essa parte sem valor econômico, chamada de estéril, é empilhada em alguma área próxima à mina, com cuidados para causar o mínimo impacto ambiental – muitas vezes, árvores são plantadas na pilha de terra para evitar deslizamentos

4. Britagem

O minério bruto chega à usina em grandes blocos, que são quebrados em máquinas de britagem. São várias etapas de quebra-quebra, que esmagam os pedaços de minério até eles ficarem com cerca de 2 centímetros de diâmetro, o tamanho adequado para a separação

5. Separação

Conforme o minério vai saindo da máquina de britagem, ele cai em uma peneira (com telas de diferentes espessuras), que libera a passagem dos pedaços de até 2 centímetros e lança os maiores de volta à britadeira. O peneiramento é feito com jatos de água, que ajudam a escoar os restos de terra ligados aos pedaços de ferro

6. Concentração

Uma parte do minério fica tão fina que se confunde com os grãos de areia misturados ao material bruto. Para recolher essa parte, costuma-se empregar um separador magnético, que usa ímãs para agarrar o pó de ferro, enquanto a areia vai embora com a água

7. Reciclagem de água

Toda a água usada para limpar o minério é recolhida no fim do processo num reservatório profundo, enterrado no solo. A areia e a lama, mais pesadas, se acumulam no fundo do reservatório e a água, livre das impurezas, é bombeada para uma barragem, que reabastece todo o processo. Assim, 70 a 80% da água usada na mina é reciclada

8. Empilhadeira

Depois de limpo, peneirado e separado por tamanho, o minério em grãos segue para as empilhadeiras. Como o nome sugere, uma máquina com pás gigantes vai descarregando o minério em pilhas, até formar uma verdadeira montanha de armazenagem

9. Ferrovia

Quando chega a hora de embarcar, as pilhas de minério são transferidas para os vagões de trem, que transportam as toneladas do produto até o porto mais próximo, de onde ele segue em navios para os compradores. As ferrovias são o único meio viável para fazer esse transporte.

Fonte: Mundo Estranho

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Patrimônio e Ciência aliados à história social

Bruna Fontes, Cristiano Gomes e Rosianne Silveira 

O passado, cada vez mais, vai de encontro  ao presente. Da modernidade até os patrimônios históricos, mais que preservação em si, a ciência se faz presente no auxílio do processo de conservação de um contexto social, fazendo com que o tempo não apague o que a natureza ou humanidade se empenharam em criar.

Para o processo de conservação, técnicas minuciosas participam como verdadeiros ciclos de movimentos que, unidos, proporcionam a volta da sutileza de detalhes dos patrimônios  da humanidade. Mas sempre fica a dúvida: Por que alguns monumentos duram mais do que outros?

Aprofundando na história…

Várias atividades sistemáticas no século XIX, após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, surgiram para restaurar os monumentos e edifícios históricos destruídos na guerra. Em Minas Gerais, o processo não foi diferente. Por ser o berço de muitos fatos que marcaram a história mundial, o estado possui algumas cidades históricas, como Ouro Preto e Mariana,  que mantêm construções antigas, que devido ao tempo e outras condições, acabam se degradando.

Trecho do decreto

Trecho do decreto

Em 30 de novembro de 1937, foi aprovado pelo presidente Getúlio Vargas, o Decreto-Lei nº 25, que organiza a proteção ao patrimônio artístico e cultural do Brasil.  Com isso, órgãos de proteção acabaram surgindo aos poucos, como o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, que desenvolve vários trabalhos na área como a preservação, divulgação e fiscalização dos bens culturais brasileiros.

Segundo o responsável pelo acervo histórico do IPHAN da cidade de Mariana (MG), Cássio Vinícius Salles, algumas obras e prédios já se submeteram a reestruturação, contando  com materiais químicos e misturas de produtos que foram utilizados na época de suas construções. Tentativa que surtiu efeito durante a reforma da Igreja Nossa Senhora do Carmo, de 1784, que, após o incêndio em  1999, passou por grandes recuperações, até ser totalmente reformada e aberta ao público após alguns anos.

Foto das igrejas

Antes e depois do incêndio
*Fotos retiradas do Blog Culturando

Processos construtivos

A Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), órgão do estado, proporciona diversas atividades com o intuito de fomentar as ações artísticas que envolvem a restauração de bens históricos. Para Sérgio Nonato, Técnico em Cultura e aluno da instituição, vários fatores interferem no processo de deterioração dos patrimônios históricos: “Estão relacionados o clima, intemperismo químico, ação humana, falta de conservação, intervenções inadequadas e até mesmo falta de manutenção do bem”, afirma.

No entanto, muitas pessoas preferem valorizar mais a conservação dos bens pelos quais gastaram o dinheiro,  do que monumentos públicos. “Uma casa toda fechada vai deteriorar muito mais rápido do que uma do mesmo estilo construtivo, do mesmo material, que tiver uma função.  Então, a primeira coisa é atribuir uma função a um bem.” exemplifica Nonato.

Igreja de São Francisco de Assis em Mariana

Igreja de São Francisco de Assis em Mariana

Iniciativas de fomentação para manter o uso de técnicas  do passado surgem a todo momento na fundação. Tatiana Xavier, coordenadora do Núcleo de Ofícios, ressalta que oficinas são oferecidas para ensinar as técnicas que foram utilizadas durante o processo de construção dos monumentos. Entre os objetivos está o de formar as pessoas e mostrar a importância do processo construtivo, para que os participantes possam atuar na manutenção dos bens em Ouro Preto.

Com intervenções significativas, a ciência por meio de pesquisas e produtos químicos, contribui para o desenvolvimento de maneiras para garantir a existência do patrimônio. O técnico conclui que “a ciência sempre está facilitando a conservação dos bens,  em suas diversas áreas,  só tem trazido benefícios,  principalmente na parte dos diagnósticos”.  Sobre o papel negativo da ciência, salienta ainda que alguns materiais recentes podem não surtir o efeito desejado a longo prazo.

Política de preservação cultural

A fim de conservar a história de um povo – que por vezes se reflete em seus costumes, tradições e produções artísticas -, a preservação cultural fixou-se na Constituição Federal para resguardar de modo mais eficiente que outras gerações usufruam de um conteúdo histórico devidamente conservado.

Quando se pensa em deterioração dos patrimônios culturais, causada por diversos itens como fatores climáticos, ação do tempo ou humana, percebe-se a necessidade de ações mais efetivas de preservação. Entretanto, a quem cabe a responsabilidade pela conservação do patrimônio?

O Brasil busca amparo cultural nos Artigos 215 e 216, que delegam ao Estado a função de proteção especial aos documentos, obras e locais de valores históricos ou artísticos; monumentos e paisagens naturais notáveis, bem como as jazidas arqueológicas. No Artigo 215, está previsto que o Estado deve garantir o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, além de apoio e incentivo à valorização e difusão das manifestações culturais. Já no Artigo 216, a Constituição define patrimônio brasileiro cultural como “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”.

Além da Constituição, propriamente dita, o Estado também conta com o auxílio das leis de incentivo fiscais que privilegiam os investimentos em preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural, mantendo uma aliança muito próxima entre poder público e iniciativa privada.

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Psicanálise e games: No inconsciente do Player 1

Marcos Resende (Flecha no Joelho)

“Freud seria um grande pesquisador dos jogos eletrônicos” Arlete Petry

Assim como a literatura, cinema, arte e outras manifestações culturais influem na constituição psíquica das crianças, jovens e adultos, as potencialidades para a vida psíquica dos jogos digitais têm despertado olhares mais críticos dos mais variados campos do conhecimento. Da mesma forma como os livros, a literatura em geral, televisão e o cinema já foram alvo de estudos por parte da Psicologia e da Psicanálise, os jogos digitais agora também o são.

Os jogos digitais evoluíram de uma tecnologia para um meio de expressividade humana. Os games, como uma das mídias mais complexas da atualidade, com personagens, espaço virtual e especialmente uma narrativa complexa, tornaram-se objetos de estudo e de reflexões de peso no campo da psicanálise.

Arlete Petry, pós-doutoranda em Jogos Digitais com ênfase nas narrativas dos games e de seus efeitos nos jogadores pela ECA (USP) Fonte: UNEB

Arlete Petry, pós-doutoranda em Jogos Digitais com ênfase nas narrativas dos games e de seus efeitos nos jogadores pela ECA (USP) Fonte: UNEB

Evolução das narrativas e a experiência do jogador

Assistimos a intensificação gradual da complexidade das narrativas dos games. As experiências oferecidas por eles evoluíram da simulação de um simples jogo de tênis de mesa em Pong (Atari) até chegarmos à multiplicidade da rivalidade entre irmãos na luta do bem contra o mal em Devil May Cry (Capcom).

Como explicado por Vicente Gosciola, especialista em transmídia e professor da Anhembi Morumbi, na medida em que as mídias estão se tornando mais complexas, o simples relato da história corrida dos fatos se torna cada vez menos satisfatória para os consumidores midiáticos que estão sendo formados hoje.

Um bom game narrativo se apresenta como uma outra plataforma de entretenimento, que complementa as necessidades desses consumidores por ser uma mídia que abarca vários elementos e artifícios narrativos. Um desses elementos, de substancial importância, é a interatividade que a narrativa dos jogos eletrônicos possibilita. Um bom game favorece a imersão na história. Como diz Renata Gomes, Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, “um game que prioriza a narrativa tem a natureza de uma experiência”.

Embate entre os irmãos Dante e Vergil, bem e mal, é o foco da trama em Devil May Cry 3 (Capcom) Fonte: Reprodução

Auto-conhecimento e formação da subjetividade pelos games

O encantamento produzido pelos games demonstra que eles podem estender a experiência humana para dentro de suas narrativas, mostrando-se como objetos que estão no limite entre a realidade do mundo externo e a nossa própria consciência. Os games estimulam emoções e medos, despertam desejos e até identificação do jogador para com o personagem.

Arlete dos Santos Petry, pós-doutoranda em Jogos Digitais com ênfase nas narrativas dos jogos e de seus efeitos nos jogadores pela ECA (USP), argumenta que “se podemos jogar, é porque podemos simbolizar, ou seja, encontrar formas de dar um sentido, de marcar com signos e significantes nossa vida.”, isto é, os enredos e histórias dos games são as plataformas onde os jogadores irão devanear, inserir sentido, inventar e reinventar de acordo com sua vontade e sua percepção dos elementos simbólicos do game. Os eventos e personagens são bases em que nós projetamos o que há dentro de nós. Os jogos eletrônicos, assim, auxiliam na formação da subjetividade traduzindo o inconsciente do jogador em imagens.

Como projetamos nosso eu nos vários “eus” dos games, a exploração dos jogos eletrônicos, segundo Janet Murray, autora estudada por Petry e referência fundamental no campo da narrativa interativa, traz o “benefício do autoconhecimento”. Os games, para ela, são “uma tecnologia otimista para explorar a vida interior”.

Quando nos deparamos com certas questões dos games, nós nos perguntamos o que poderíamos fazer para, por exemplo, pôr fim a uma briga de irmãos ou salvar determinada pessoa/personagem. Petry entrevistou um jovem que se encantou pelo game Deus-Ex, cujo tema são as transformações e alterações nos corpos humanos. “No jogo, percebia reações de repulsa e outras de admiração pelos personagens transformados. Isso o fez lembrar da rejeição que percebia nas pessoas quando se vestia, na adolescência, com trajes mais incomuns (roupas pretas, botas etc) e não era aceito em certos ambientes”, confidencia.

JC Denton é um agente com poderes aumentados pela nanotecnologia em Deus Ex (Ion Storm Inc.) Fonte: Reprodução

O uso dos games, enfim, possibilita a construção de narrativas dentro das próprias narrativas, onde o jogador pode viver simulações de vida e assim exercitar a formação de sua identidade e conhecê-la a fundo.

A multiplicidade de experiências dos games

É importante ressaltar que o jogo disponibiliza e tem a natureza de uma experiência, mas não é a experiência em si. Esta não está na narrativa, nos personagens, nem nos controles e ambientações do game e sim no modo como a outra pessoa o vive e assimila seu conteúdo simbólico. Dessa forma, os jogos, de modo simples e peculiar, estimulam a criatividade, pois o jogador descobre algo novo no que já está pré-estabelecido, escolhe novos caminhos para percorrer dentro de uma mesma delimitação.

Um game possibilita novas interpretações como um livro ou filme. A cada nova leitura ou passada de olhos, o leitor faz uma inferência diferente, nota uma coisa para qual não tinha se atentado antes ou tem outro entendimento sobre a mesma passagem. Nos games as experiências podem ser diversas, cada fase ou ação podem ser vividas de um modo diferente. Com o avanço da tecnologia isso se torna cada vez mais complexo e frequente. Segundo Murray, a repetição e contextualização das experiências podem ser usadas até pela psicoterapia, mesclando as experiências com diálogos com o terapeuta. A experiência de encenar algo, de atuar em uma narrativa de um game, para Murray, é potencialmente transformadora para o jogador.

Transformadora, pois os games criam um mundo entre a realidade interna e externa, constituído pela nossa subjetividade e a forma como interiorizamos as simbologias presentes nas narrativas e discursos criados pelos game designers. Então, por esse mundo não ser nem interno e nem externo, nós podemos nos aproximar tanto dos games a ponto de nos identificarmos e nos posicionarmos na pele dos personagens, quanto nos afastarmos deles e escolhermos assumir outra face. Nós descarregamos nossa subjetividade nos jogos e, por exemplo, quando nossas experiências casam com as narrativas e discursos presente nos games, nós nos identificamos com a trama.

Da esquerda para direita: Vicente Gosciola, Renata Gomes, Wallace Lages e Felipe Garrocho. IV Secom – Games e Narrativas. Foto: Paula Peçanha

O papel dos game designers

O game designer é o responsável por criar as características particulares do jogo. Ele o faz pensando na interpretação que o jogador poderá fazer. Já o jogador percorre o jogo assimilando as características que o designer tentou passar, mas criando também sua própria experiência de acordo com as decisões que toma no game. Petry conta que “quando o jogador joga ele pode retirar do jogo significados que sequer foram pensados pelo designer.”

 O desenvolvimento dos jogos eletrônicos é setorizado por áreas como trilha sonora, enredo e visual. Entretanto, Gosciola enfatiza que um game só é bem sucedido quando os profissionais envolvidos, sejam eles dos mais diferentes setores, estão perfeitamente integrados. A equipe toda, segundo ele, precisa estar muito bem integrada e todos os seus componentes devem ter o mesmo peso decisório. “Até mesmo o que o roteirista pensa pode ser potencializado pelas opções sugeridas pelo designer”, completa.

A integração dos variados setores do desenvolvimento do game reflete na jogabilidade. O jogador ao experienciar o game não considera só um aspecto, mas sofre influência da conjunto deles tais como roteiro, personagens, ambientes visuais e de áudio, conteúdo, recursos de código e estética, interface, ambientação interativa, jogabilidade, objetos de inventário, movimentos de câmera e controles.

Vicente Gosciola, autor do livro “Roteiro para Novas Mídias – do Game à TV Interativa” e especialista em transmídia. Fonte: Unicap

Logo, como Petry cita em seu artigo Heavy Rain ou o que podemos vivenciar com as narrativas dos games, Freud já em 1908 abordava o brincar, o jogo, como “uma espécie de simulação virtual caracterizada pela encenação.” Os games, então, assumiram um significado além da diversão e entretenimento. O jogador, nos games, tem a oportunidade de expressar como percebe a realidade. Para a psicanálise, jogar é algo mais que só imaginar e desejar, jogar é ter acesso a profundas experiências psicológicas que estimulam a criatividade e constituem um forte significado para o jogador e a cultura. A forma como nós absorvemos a narrativa do game, como interagimos com os seus eventos, podem, segundo Petry, ser analisados do ponto de vista psicanalítico e até serem usados como objeto de estudo para teorizações terapêuticas.

Jogar conecta o indivíduo aos seus mais íntimos anseios e temores, provenientes das experiências que o jogador pode ter com os elementos narrativos do game. Enfim, o jogo, enquanto produto de esforço intelectual e objeto de estudo da psicanálise, é o lugar intermediário entre a realidade externa e a compartilhada. É o espaço onde cada sujeito tem seu mundo interior confrontado. Nessa área de experiência e criatividade que, segundo os psicanalistas, o jogador poderá ser integralmente ele mesmo e descobrir o seu eu. Como bem diz Petry é nessa área “que experimentamos a vida.”

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História do Tempo Presente: o dever da memória

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Reprodução

Daniella Andrade e Iago Rezende

O dever da memória, a necessidade de trazer à tona questões que ainda permeiam a vida contemporânea, a “história em aberto” e o “nosso próprio tempo” são algumas das definições da História do Tempo Presente. Estudiosos como Eric Hobsbawm, Marina Franco & Florencia Levín e Julio Aróstegui são alguns dos teóricos que aprofundaram a historiografia na construção da teoria do Tempo Presente.

Para alguns historiadores brasileiros, há muita dificuldade na construção da História do Presente, pois lidam com uma história ainda sem fim, na maioria das vezes, com pessoas que ainda estão vivas, que podem relatar, denunciar e esclarecer partes do fato. Esse é o ponto mais frágil. Para o Professor Titular de História do Brasil da UFRJ, Carlos Fico, o historiador do Tempo Presente enfrenta cobranças que outros colegas de história medieval, antiga, moderna, desconhecem: a contestação daqueles que passaram pelos episódios contados.

Narrar histórias que ainda “não terminaram” traz problemas para a teoria, na opinião do teórico Leopold von Ranke. Para ele, o tempo presente passa pela “ausência de recuo temporal e tornaria impossível uma análise imparcial”, ou seja, o relato do historiador seria parcial, assim como o testemunho de pessoas que viveram o fato, pois se envolvem novamente com o ocorrido.

A partir desse pressuposto, a Comissão Nacional da Verdade, instituída no ano de 2012, tem a finalidade apurar as graves violações dos Direitos Humanos ocorridos no período entre 1946 a 1988, que inclui a ditadura militar (1964-1985), e pode ser vista como uma busca da História do Tempo Presente. O regime militar no Brasil foi considerado a “ditadura documentada”. A CNV suscita assuntos a partir do depoimento de pessoas que sofreram na época da ditadura, a fim de tomar as devidas medidas contra repressão política e violação aos direitos humanos. Esta comissão, junto à imprensa, tomam partido para resgatar e averiguar documentos da época que norteiam o assunto.

A partir das apurações desta comissão, a reafirmação dos direitos humanos e a luta contra a violência política não se restringem à condenação política ou jurídica, mas sim a justiça e a reafirmação da democratização de um tempo obscuro.

Audálio Dantas é considerado um dos maiores exemplos de colaboradores na formação da história contemporânea por sua constante luta a favor da liberdade de imprensa, retratando também os ocorridos na Ditadura Militar. Lançou o livro As Duas Guerras de Vlado Herzog (Civilização Brasileira), que retrata a trajetória de vida de Vladimir Herzog, contando como o jornalista foi vítima dos nazistas na Iugoslávia, nos anos 1940, e das forças de repressão da ditadura militar brasileira, que o mataram em 1975.

Em entrevista, Audálio comenta sobre a estruturação e importância da Comissão da Verdade.

Iago: Audálio, qual é a importância da compreensão da gravidade da ditadura na luta contra a violência política?

Audálio: A compreensão de que a ditadura exerceu um papel negativo foi clara e levou uma geração inteira ao silêncio. Esse é um fato determinante da necessidade que temos hoje em recomeçar o que gerou um enorme atraso em todos os setores do Brasil, desde o setor econômico, social, político e cultural. Por isso, as nossas novas gerações têm o dever de se informar sobre o que aconteceu e lutar para que não aconteça de novo.

I: E o que pode ser mudado a partir das alterações da comissão da verdade?

A: Desde já, a instituição da comissão da verdade tem o sentido de importância na medida em que traz de volta o debate em torno dos crimes ocorridos na Ditadura Militar. Quando se diz que ela não tem o direito de punir, e realmente não tem, isso pra mim não tem a menor importância. A importância pra mim está em buscar de maneira mais profunda a apuração da verdade e a execração ocorrida.

Confira a entrevista de Audálio Dantas no Jornal da Gazeta sobre os crimes da ditadura.

Para mais informações sobre a Comissão Nacional da Verdade, acesse:

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Neurociência: como ela ajuda a entender a aprendizagem?

Laura Vasconcelos e Nathália Souza

Renato Filev

A neurociência estuda as áreas interligadas pelo sistema nervoso no corpo dos seres vivos. Como um emaranhado de conexões que ligam todos os membros e os órgãos do corpo, o sistema funciona como uma ferramenta de controle, que une desde as funções básicas do organismo, como andar, até as mais complexas, como raciocinar sobre cálculos matemáticos.

Direcionando o foco para o processo de aprendizagem, o biomédico e doutorando em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Renato Filev, defende a idéia de que nosso cérebro nunca para e que sempre estamos aprendendo algo novo. No entanto, com o passar dos anos, naturalmente, nossa capacidade de armazenamento de informações diminui.

Esse fenômeno acontece por que o processo de formação de novos neurônios no cérebro diminui e muitas células do sistema nervoso central morrem, enfraquecendo os músculos. Com o estresse oxidativo, causado pelo excesso de elétrons livres presentes na molécula de oxigênio, aumenta o número de radicais livres, causando danos ao tecido nervoso. As principais fontes dos elétrons livres são: má alimentação, consumo de álcool e nicotina, que se acumulam ao longo da vida no organismo humano.

Crescendo e aprendendo

A cada fase da vida, o corpo humano reage de uma forma e não é diferente com o cérebro. Quando criança, ele está em formação, por isso, há uma maior facilidade em guardar informações. Na adolescência, esse processo é mais intenso e não mais de repetição e, quando adultos, devido ao desgaste natural do corpo, a tendência é captar muita informação, mas selecionar e armazenar as que são julgadas como as mais importantes.  

Como o cérebro na criança está em formação, o processo de aprendizagem se encontra no auge. Existe um sistema de armazenagem ávido por captar informações do meio através dos sentidos. No jovem, este processo de aprendizagem ocorre de maneira mais intensa que em outras fases da vida. Nesta primeira etapa, o aprendizado por repetição e a grande quantidade de informações armazenadas são características principais. Já na fase adulta, ocorre uma perda no volume de informações armazenadas, porém, ganhamos qualidade e refinamento no que se é guardado, ou seja, ao longo de nossas experiências selecionamos as informações acerca daquilo que nos parece interessante”.

E essa história de que há um lado do cérebro que é responsável pela aprendizagem? Segundo Renato, “existem núcleos específicos responsáveis com aprendizados de diferentes tarefas. Neste sentido existem núcleos cerebrais que predominam em hemisférios específicos, e se tornam mais importantes para um tipo memória, como por exemplo a área de broca, núcleo cortical com predominância no hemisfério esquerdo”.

Além disso, existem alguns neurônios em regiões específicas para a formação da memória, como por exemplo, no hipocampo para memórias contextuais, que são lembranças conscientes da fonte ou lembranças específicas. “Você encontra uma pessoa que não conhece, mas pensa já ter visto em algum lugar, há algum tempo. Fica buscando lembranças passadas e percebe que uma semana atrás essa pessoa estava no mesmo ônibus que você”, exemplifica.

Cannabis x cérebro

Sistema nervoso central e a maconha

Sistema nervoso central e a maconha

Renato Filev estuda, em seu projeto de doutorado, os efeitos que o uso da Cannabis (popularmente conhecida como maconha) pode causar no cérebro humano. Em resumo, uma das substâncias presentes na Cannabis, o delta9THC, tem potencial para afetar a memória de trabalho, também conhecida como operacional.

Esse fenômeno ocorre através da interação com receptores canabinóides, presentes nos astrócitos (células neurológicas em forma de estrela), provocando um rearranjo nos principais neurotransmissores do sistema nervoso central (os glutamatos). Essa interação é capaz de provocar danos à memória de curta duração.

De acordo com Filev, “ao interferir na memória de curta duração em sua fase inicial da formação da memória, a Cannabis pode interferir no processo de consolidação da memória. Porém este efeito ocorre no período de intoxicação aguda do uso da erva”.

Quanto mais novos, mais informações os humanos guardam e, ao longo da vida, esses espaços vão sendo preenchidos de tal forma que não seja possível se lembrar de tudo que se é armazenado no cérebro. Além de que nem tudo o que se ouve ou enxerga é processado na forma de som e imagem corretamente.

Então, existe um limite de informações ou espaço que um ser humano pode guardar no cérebro? Segundo Renato, não. “Neste processo de armazenagem de informações, salvo as questões inerentes desta perda ou seleção de informações no processamento, não existe limite para o armazenamento de novas informações. Por isso é possível aprender novas experiências em todas as fases da vida”.

Fotos: Reprodução Google Imagens/ https://www.veja.abril.com.br,

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